Aveiro, 16 de Março de 2006
Caríssimos,
Desculpem este desabafo, mas hoje, pela primeira vez, senti vergonha de ser um cidadão Aveirense e não por razões económicas, culturais, mas sim por uma questão de dignidade da pessoa humana - falta de humanidade.
Quando estava a folhear o jornal como o faço logo pela manhã, deparei-me com a notícia que a seguir transcrevo.
Ainda estou a "ferver" por dentro com a desumanização que já está patente na cidade dos canais - tão pacata e simples como muitos apelidam mas que para mim, deixou de o ser.
E questiono-me como agente da pastoral onde é que se encontra no meio disto tudo a Igreja?
Onde é que estamos a falhar, numa sociedade com 93% de pretensos católicos mas, como dizia o jornalista Joaquim Franco da SIC, católicos não-cristãos*. Dado que, quase de certeza daqueles que presenciaram a cena, alguns até vão à missa todos os domingos e andam a "bater no peito" como pecadores tão arrependidos, e depois assistem à "queda de Cristo" em plena rua e nada fazem, olham para o lado como se nada fosse.
Como nos fala o evangelho deste próximo domingo (Jo 2, 13-25), Cristo que se transforma e afirma como o "novo templo" que pode ser derrubado mas se levanta passados 3 dias, ou seja, nunca pode ser destruído porque venceu a morte e o mal, pede-nos que sejamos nós agora nos nossos dias, essa presença viva dEle no meio da sociedade. Que os outros consigam ver em nós esse "novo Templo".
Portanto, os cristãos são aqueles que aderiram a Cristo, que aceitaram integrar a sua comunidade, que comeram a sua carne e beberam o seu sangue, que se identificaram com Ele. Membros do Corpo de Cristo, os cristãos são pedras vivas desse novo Templo onde Deus manifesta-se ao mundo e vem ao encontro dos homens para lhes oferecer a vida e a salvação.
Esta realidade supõe naturalmente, para os crentes, uma grande responsabilidade… responsabilidade essa que pelos vistos passa ao lado de muitos daqueles que até vão à missa e se intitulam de cristãos.
Também desses sinto vergonha e peço perdão a Deus por de facto ainda acontecerem estas "falhas" cada vez mais evidentes de falta de amor e carinho pelo próximo que está ali ao nosso lado a ser agredido.
Como é que a palavra de Deus consegue passar despercebida a esta gente?
Será como nos indica S. Paulo também nesta semana, na carta aos Coríntos,
“Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios.
Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens." (I Cor 1, 22-25), ou seja, será que como agentes evangelizadores não seremos muito leves na nossa acção pastoral e tentemos que a linguagem de Deus seja "políticamente correcta" e como tal não produza os efeitos que deveria produzir? retirando-lhe a sua acção menos radical e interpelativa. Penso que ás vezes, o invólucro “brilhante” com que envolvemos a Palavra torna-a mais atractiva, mas menos questionante e, portanto, menos transformadora.
O que é que andamos a fazer? onde é que estamos a falhar?
Sinceramente, será esta a sociedade que andamos a construir?
Pelos visto pessoas presenciaram a cena e já não digo que interviessem em ajuda ao dito senhor, mas ao menos testemunhar?
Que sociedade é esta, que não olha para o outro e vê nele uma pessoa que precisa de ajuda?
Deixo-vos a minha indignação e desabafo em tom provocador mas acima de tudo, em tom de reflexão que acho deverá ser feita pela sociedade civil, mas também e muito pela sociedade "religiosa" (deixem passar o termo) que todos fazemos parte.
Se conseguirem, que tenham uma Santa e feliz quaresma, sempre com os olhos postos na luz Pascal que é renovadora e radical.
Um abraço em Cristo,
Fernando José Cassola Marques
*(in Correio do Vouga de 15/03/2006)
NOTA: Desculpem alguma "gralha" mas escrevi este texto em 15 minutos depois de ter lido o jornal.
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Notícia retirada do Jornal Diário de Aveiro do dia 16/03/2006Caríssimos,
Desculpem este desabafo, mas hoje, pela primeira vez, senti vergonha de ser um cidadão Aveirense e não por razões económicas, culturais, mas sim por uma questão de dignidade da pessoa humana - falta de humanidade.
Quando estava a folhear o jornal como o faço logo pela manhã, deparei-me com a notícia que a seguir transcrevo.
Ainda estou a "ferver" por dentro com a desumanização que já está patente na cidade dos canais - tão pacata e simples como muitos apelidam mas que para mim, deixou de o ser.
E questiono-me como agente da pastoral onde é que se encontra no meio disto tudo a Igreja?
Onde é que estamos a falhar, numa sociedade com 93% de pretensos católicos mas, como dizia o jornalista Joaquim Franco da SIC, católicos não-cristãos*. Dado que, quase de certeza daqueles que presenciaram a cena, alguns até vão à missa todos os domingos e andam a "bater no peito" como pecadores tão arrependidos, e depois assistem à "queda de Cristo" em plena rua e nada fazem, olham para o lado como se nada fosse.
Como nos fala o evangelho deste próximo domingo (Jo 2, 13-25), Cristo que se transforma e afirma como o "novo templo" que pode ser derrubado mas se levanta passados 3 dias, ou seja, nunca pode ser destruído porque venceu a morte e o mal, pede-nos que sejamos nós agora nos nossos dias, essa presença viva dEle no meio da sociedade. Que os outros consigam ver em nós esse "novo Templo".
Portanto, os cristãos são aqueles que aderiram a Cristo, que aceitaram integrar a sua comunidade, que comeram a sua carne e beberam o seu sangue, que se identificaram com Ele. Membros do Corpo de Cristo, os cristãos são pedras vivas desse novo Templo onde Deus manifesta-se ao mundo e vem ao encontro dos homens para lhes oferecer a vida e a salvação.
Esta realidade supõe naturalmente, para os crentes, uma grande responsabilidade… responsabilidade essa que pelos vistos passa ao lado de muitos daqueles que até vão à missa e se intitulam de cristãos.
Também desses sinto vergonha e peço perdão a Deus por de facto ainda acontecerem estas "falhas" cada vez mais evidentes de falta de amor e carinho pelo próximo que está ali ao nosso lado a ser agredido.
Como é que a palavra de Deus consegue passar despercebida a esta gente?
Será como nos indica S. Paulo também nesta semana, na carta aos Coríntos,
“Nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios.
Pois o que é loucura de Deus é mais sábio do que os homens e o que é fraqueza de Deus é mais forte do que os homens." (I Cor 1, 22-25), ou seja, será que como agentes evangelizadores não seremos muito leves na nossa acção pastoral e tentemos que a linguagem de Deus seja "políticamente correcta" e como tal não produza os efeitos que deveria produzir? retirando-lhe a sua acção menos radical e interpelativa. Penso que ás vezes, o invólucro “brilhante” com que envolvemos a Palavra torna-a mais atractiva, mas menos questionante e, portanto, menos transformadora.
O que é que andamos a fazer? onde é que estamos a falhar?
Sinceramente, será esta a sociedade que andamos a construir?
Pelos visto pessoas presenciaram a cena e já não digo que interviessem em ajuda ao dito senhor, mas ao menos testemunhar?
Que sociedade é esta, que não olha para o outro e vê nele uma pessoa que precisa de ajuda?
Deixo-vos a minha indignação e desabafo em tom provocador mas acima de tudo, em tom de reflexão que acho deverá ser feita pela sociedade civil, mas também e muito pela sociedade "religiosa" (deixem passar o termo) que todos fazemos parte.
Se conseguirem, que tenham uma Santa e feliz quaresma, sempre com os olhos postos na luz Pascal que é renovadora e radical.
Um abraço em Cristo,
Fernando José Cassola Marques
*(in Correio do Vouga de 15/03/2006)
NOTA: Desculpem alguma "gralha" mas escrevi este texto em 15 minutos depois de ter lido o jornal.
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Professor agredido e assaltado em pleno dia
Um homem de 47 anos, professor, foi assaltado e violentamente agredido, ontem, pelas 13.30 horas, na Avenida 25 de Abril, em Aveiro, entre a Escola Secundária José Estêvão e a Escola Dr. Mário Sacramento, junto de uma paragem de autocarro.Ao que o Diário de Aveiro apurou junto de uma testemunha que assistiu àquele acto, o indivíduo foi surpreendido por três jovens que, depois de atravessarem uma passadeira daquela avenida a correr, o empurraram para cair. Já no chão, o professor sofreu várias agressões, nomeadamente pontapés, que o deixaram combalido e com a cara ensanguentada.Ao que o Diário de Aveiro sabe, os três jovens tiraram-lhe a carteira e abandonaram-na depois no chão antes de se porem em fuga. O professor terá comunicado à PSP que os assaltantes lhe roubaram 80 euros em dinheiro.Através do Gabinete de Relações Públicas, a PSP lamenta que não haja ninguém que queira testemunhar o acto de violência em causa, mas o Diário de Aveiro sabe que a escassos metros se encontrava um autocarro municipal, na dita paragem, para recolher passageiros. Os que já seguiam no seu interior tiveram a oportunidade de assistir à agressão antes do autocarro partir.
O homem foi assistido pelos Bombeiros Velhos de Aveiro, mas ao que apurámos não careceu de internamento.
enfim, coisas da vida ...
1 comentário:
Fernando Amigo.....
'O pão nosso de cada dia nos dai hoje,
perdoai as nossas ofensas...'
todos os dias é isto. A indiferença.....
bom fim de semana, amigo
RPM
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