
Para aos cristãos, o grande Livro é e será sempre a Bíblia. Sair dela ou prestar-lhe menos atenção é deixar sem alimento a fé pessoal e a fé comunitária sem fundamento sólido e inspirador.
Recentemente, uma sondagem feita na diocese de Lisboa, e da qual se deu notícia muito alargada, trouxe ao de cima a consciência de como há ainda muitos cristãos que não lêem, não meditam, nem rezam a Bíblia, mesmo quando a têm em suas casas e sabem o seu valor e importância para a vivência da fé e para a vida segundo Cristo.
Os cristãos da reforma protestante e outros que, ao longo do tempo, foram nascendo, separando-se das correntes iniciais, mantiveram sempre grande ligação à Bíblia. O mesmo fazem hoje as incontáveis seitas que vão proliferando por esse mundo fora, muitas vezes sem pejo de utilizarem e manipularem o Livro Sagrado para justificar opiniões e interesses.
Num contexto histórico conhecido, a Igreja Católica durante séculos, preocupada em defender a fé tradicional do povo, ameaçada por uma livre interpretação bíblica, deu prioridade, na sua acção, à catequese das crianças, apoiando-a no testemunho activo da família, primeiro espaço de transmissão e expressão da fé. A Bíblia, suporte doutrinário do catecismo, foi um Livro usado sobretudo pelo clero, a quem competia ensinar as verdades cristãs às crianças e motivar os pais para o seu dever de primeiros educadores da fé dos seus filhos. Muito tempo assim, tempo de mais dada a evolução das mentalidades e da sociedade. Maior preocupação em continuar a defender, sem garantia, a fé dos crentes, e menor em evangelizar e alimentar essa fé, cada vez mais débil. Mesmo nos seminários, o estudo da Escritura foi deficiente, por haver mais preocupação com os problemas exegéticos, que com a riqueza espiritual inesgotável da Palavra Revelada.
Já em pleno século XX a Bíblia, traduzida em português e com notas explicativas, tornou-se mais acessível aos católicos. Os padres capuchinhos tiveram grande mérito neste acordar bíblico com a pregação popular, os grupos paroquiais, as Semanas Bíblicas nacionais, a publicação contínua da Bíblia e a Revista Bíblica. Milhares de pessoas e muitas centenas de paróquias vêm beneficiando desta acção. O Vaticano II fez acerca da Palavra de Deus uma Constituição conciliar ainda pouco conhecida. Dá-se, agora, cada vez mais atenção à leitura espiritual da Bíblia, dita “Lectio Divina”, que leva à participação pessoal de quem escuta ou lê a Palavra. As celebrações litúrgicas, mormente a Eucaristia, dão lugar central à Palavra de Deus e ao ministério de leitor, ajudando a crescer o amor à Bíblia.
Nos últimos tempos faz-se a campanha “ Em cada casa uma Bíblia”. Vê-se, porém, que não chega colocar o Livro nos lares cristãos, se antes ou ao mesmo tempo, não se mete, com cuidado e persistência, no coração dos crentes, o amor à Palavra e a capacidade de a ler e meditar, com fruto espiritual e apostólico.A preparação do próximo Sínodo dos Bispos sobre a Palavra de Deus, está acordando a Igreja das suas rotinas, omissões e demoras. Se evangelização, iniciação cristã, formação dos adultos e agentes pastorais são hoje urgências na Igreja, não se dará passo válido sem dar à Bíblia ou à Palavra de Deus o lugar indispensável que lhe compete.
António Marcelino
Bispo emérito de Aveiro
2 comentários:
Pio XII "reabilitado" por judeus-ver o meu blog.
Neste dia Mundial dos Refugiados:
A ORBIS está com um projecto, coordenado por duas voluntárias que estudam na Universidade de Aveiro. Destina-se a ajudar 180 mamãs subnutridas que vivem em Safim, na Guiné Bissau e ajudá-las a combater a escassez de alimento para si e em consequência para os seus pequeninos.
VOTEM NESTA CAUSA ou votem na causa que quiserem... mas votem. É uma homenagem que fazemos aos refugiados deste mundo…
http://www.causassuperiorestmn.com/canalup/
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