segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Existe ainda a família?

Outras Famílias
Por EDUARDO PRADO COELHO - Quinta-feira, 03 de Fevereiro de 2005

Por motivos complexos, que a sociologia e a psicanálise poderão ajudar a esclarecer, as famílias estão hoje em mutação acelerada - embora as transformações variem conforme os países e as suas tradições.
Um número recente (mais precisamente, o 132, de Novembro-Dezembro) da revista "Le Débat" intitula-se "L'enfant-problème" e procura pensar a redefinição das idades da vida (para utilizarmos a formulação de Marcel Gauchet, director da publicação). Analisa-se o que foi a emergência dos movimentos dos jovens e o seu actual declínio, a possibilidade ou impossibilidade de existir um processo educativo sem participação da família (será que a escola se encarrrega de tudo?), ou ainda a relação extremamente multifacetada da criança com os "media".
Um artigo merece-nos particular atenção: o de Dany-Robert Dufour sobre "Televisão, socialização, subjectivação". A questão é que o modo de produção de sujeitos altera-se profundamente. E em termos que muitas vezes temos dificuldade em compreender.
Existe ainda a família?, pergunta Dufour. Em larga medida, somos levados a dizer que não, se considerarmos a família como um casal estabilizado, com horas regulares de refeições, comportamentos ritualizados, avós, tios, primos e primas, e velhas empregadas que recolhem em silêncio os conflitos, os dramas, as alegrias e os afectos. Mas, ao mesmo tempo, a família dura mais: por vezes, assistimos à sobreposição de quatro gerações. Por outro lado, há famílias que se reduzem a um pai (sobretudo, a uma mãe) e um filho. Na medida em que as relações de conjugalidade se desarticulam, temos um processo triplo que Dufour enuncia nestes termos: indivualização, privativação, pluralização da família. Com formas inesperadas de tolerância e mesmo de cumplicidade sexual, tanto dos pais em relação aos filhos, como dos filhos em relação aos pais.
Assiste-se àquilo que se pode designar como uma desinstitucionalização da família: por um lado, quebra das relações de autoridade e desaparecimento dos conflitos geracionais; por outro lado, aumento das relações de igualdade - de certo modo, todos somos irmãos.
Donde, estamos perante "o fim da organização hierarquizada do espaço-tempo familiar". E, ao mesmo tempo, a família perde o seu valor simbólico e passa a ser "um agrupamento funcional de interesses económico-afectivos".
É aqui que entra em cena a televisão. Segundo as estatísticas, de um terço a dois terços das crianças (incluindo crianças até aos três anos) têm uma televisão pessoal no seu quarto. Daí a tese central do artigo de Dufour: "A televisão muda de facto os contornos da família, enfraquecendo o papel já reduzido da família real e criando uma espécie de família virtual que se vem juntar à precedente".

Depois da leitura atenta deste artigo publicado pelo Sr. Prof. Eduardo Prado Coelho, fiquei deveras assustado com a família da actualidade. Após uma extensa reflexão de minha parte, de certa maneira não posso deixar de concordar com a grande maioria do que acima é escrito, e principalmente com os destaques que efectuei do texto. Na realidade a família nos moldes que a conhecemos está a sofrer uma autêntica mutação e se calhar devido aos media (o que muitos confundem somente com a televisão), se está a tornar num novo modelo em que por vezes só são partilhados quase "interesses económico-afectivos".
No entanto, eu não sou daqueles que culpam os meios de comunicação, por tudo e por nada. Quem faz (escreve, publica, grava, emite, etc.) tudo o que os meios de comunicação são?
Não serão pessoas? Pais e mães de família? Avós, tios, filhos ?
Consequentemente temos então um problema, as pessoas que fazem os media, não têm consciência colectiva e fazem tudo o que for necessário para ter sharing, somente a olhar para o lucro? Se calhar na sua grande maioria até é verdade, o que nos transporta para outro problema que é o de atacar as pessoas que fazem os media, e não tão somente, atacar a(s) instituição(ões). Como eu não gosto que se "ataque" a Igreja por tudo e por nada, porque se todos somos Igreja, então também nós teremos algum motivo para sermos atacados, não é verdade?

Seremos então nós também responsáveis pelos media? penso que sim, todos nós temos responsabilidades no que consumimos, no que vemos, no que "digerimos", portanto como costumo afirmar que só se vende aquilo que as pessoas consomem.

Família, olha para ti mesmo e revoluciona-te, revigora-te


Enfim coisas da vida !!!

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