quinta-feira, maio 12, 2005

Pressão para PS mudar lei do aborto depois do referendo "ter abortado"

O PS já disse que, pelo menos para já, não vai desistir da ideia de realização de um novo referendo ao aborto (depois da consulta de 1998) e que só em último caso aceita pensar numa mudança da lei sem recurso a uma consulta aos portugueses. Mas há quem entenda que esse tal último caso já foi ultrapassado. É o caso do grupo de cerca de meia centena de cidadãos subscritores de um documento favorável à alteração imediata da lei pelos deputados, e que ontem foi dizer de sua justiça ao grupo parlamentar maioritário no Parlamento, o do PS. "Viemos manifestar ao PS a nossa preocupação pela situação em que se encontra o processo legislativo", afirmou o Procurador Geral Adjunto Eduardo Maia Costa aos jornalistas depois de se ter encontrado com Alberto Martins (presidente da bancada socialista), Sónia Fertuzinhos e Ana Catarina Mendes (duas das vice-presidentes).Maia Costa e a jornalista Diana Andringa, bem como a dirigente do Bloco de Esquerda Manuela Tavares, foram alguns dos representantes do grupo de cidadãos na reunião com os deputados socialistas, realizada ao início da tarde."O processo para a realização de um referendo está bloqueado. O Presidente da República [Jorge Sampaio] impediu a realização de um novo referendo este ano e para o ano que vem haverá novo Presidente da República, que não sabemos que posição vai tomar", adiantou Maia Costa. Recorde-se que de acordo com a Constituição e Lei do Referendo, cabe ao chefe de Estado a decisão final sobre a convocação de uma consulta popular.Assim sendo, "o que é preciso é resolver esta situação na Assembleia da República" e, dentro do Parlamento, cabe ao "grupo parlamentar do PS desbloquear a situação". "O processo do referendo ao aborto abortou e agora é preciso retomar o processo legislativo".Ou seja, defendeu Maia Costa, pegar na lei de despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez semanas, já aprovada na generalidade pelos deputados, e aprová-la desde já em votação final global, de forma a tomar letra de lei. Sem que, como há sete anos, se recorra previamente a uma auscultação dos portugueses.Maia Costa disse que o grupo de cidadãos não pretende encontrar-se com mais nenhum grupo parlamentar, na tentativa de resolver o assunto. "O PCP e os Verdes já aderiram a esta posição e também o Bloco de Esquerda decidiu apoiar a via parlamentar". O documento apresentado aos socialistas é subscrito por nomes como os do sociólogo Boaventura Sousa Santos, a ex-deputada socialista e Bastonária da Ordem dos Arquitectos, Helena Roseta, o cientista Alexandre Quintanilha, a jornalista Paula Moura Pinheiro, a escritora Maria Teresa Horta e a pintora Paula Rego.O PS promete insistir no referendo a partir de 15 de Setembro."
in diário de notícias de 12 de Maio de 2005
Sinceramente não percebo o que é que falta ao PS para não tentar aprovar a liberalização da possibilidade das mulheres puderem matar os seus filhos, através de decreto de lei na assembleia da republica, se é isso mesmo que eles pretendem.
Acho uma falta de coerência a tentativa de enganar o povo com um suposto referendo, sendo que a vontade do partido (ou pelo menos de algumas mentes brilhantes do partido) é a liberalização da morte assistida para os filhos que estão no ventre materno.
Tenham coragem e assumam-se não se escondam atrás de falsos moralismos, senhores socialistas.
Tendo certo que depois da lei aprovada, o vosso objectivo atingiu o fim, e nunca mais haverão mães a sofrerem por causa de terem engravidado, nunca mais haverá abortos clandestinos e nem morrerão mulheres por causa essa mesma causa, nunca mais as meninas de 15/17 anos terão filhos nem sofrerão por os terem morto!
Será atingida a perfeição e os problemas relacionados com a maternidade/paternidade responsável nunca mais ocorrerão neste país à beira mar plantado.
Enfim, coisas da vida ... (muito tristes por sinal)

quarta-feira, maio 11, 2005

PCP abstém-se em estudo do aborto

"O PCP foi a única força política que se absteve na votação sobre se o Parlamento deveria ou não avançar com um estudo sobre a realidade do aborto em Portugal. Uma iniciativa que está para avançar desde 2002, e que ontem finalmente foi aprovada, com os votos favoráveis dos deputados do PS, PSD, CDS/PP e Bloco de Esquerda, na Comissão Parlamentar de Saúde, presidida pelo deputado Rui Cunha (PS).No rápido debate que antecedeu a votação, Manuel Pizarro, deputado do PS, disse ser o seu partido "favorável a que o estudo seja prosseguido", lembrando que essa mesma decisão já tinha sido tomada. Na anterior Legislatura a iniciativa acabou por não tomar forma devido à dissolução do Parlamento e realização de eleições antecipadas.Pelo PSD, Carlos Miranda defendeu "não só que o estudo seja realizado, mas que o seja no mais curto espaço de tempo possível". Também Teresa Caeiro, do CDS/PP pediu que a investigação seja realizada "com a maior celeridade possível", apontando a necessidade de acompanhamento permanente do assunto pelos deputados da Comissão de Saúde. Também Ana Drago, do Bloco de Esquerda, considerou "urgentíssima" a realização do estudo, lembrando que já foi aprovado "em Setembro de 2002", sem que ainda esteja feito. Sem argumentar, Bernardino Soares, líder da bancada comunista, limitou-se a anunciar a abstenção do seu partido nesta matéria.Rui Cunha lembrou que as verbas já estão orçamentadas (80 mil contos), e que agora cabe ao presidente do Parlamento, Jaime Gama, dar sequência ao processo, abrindo um concurso público."

E a saga continua. Agora esperemos que essa tal equipa de trabalho, consiga na realidade tirar a fotocópia da sociedade portuguesa relativamente a esta problemática e que de uma vez por todas não se escondam por detrás de pseudo-estatísticas que na sua maioria são forjadas.
Claro está que, os elementos que formarão a tal equipa em muito vai influênciar os resultados. Vamos esperar e ver.

Enfim coisas da vida ...

terça-feira, maio 10, 2005

Deputados avançam hoje com estudo sobre o aborto

Os partidos vão hoje aprovar na Comissão Parlamentar de Saúde a realização de um "estudo sobre a realidade do aborto em Portugal". Um estudo que visa conhecer não apenas a realidade do aborto clandestino em Portugal, mas também acompanhar a situação relacionada com o planeamento familiar, a educação sexual nas escolas e o estado de preparação dos estabelecimentos de saúde para realizarem interrupções voluntárias da gravidez (que em certos casos excepcionais são já permitidas pela lei actual). O estudo, que em 2002 foi impulsionado por Helena Roseta, nunca chegou a avançar. Nas gavetas do Parlamento está já há muito o caderno de encargos, elaborado pelo ISEG (Instituto Superior de Economia e Gestão), e que de uma verba estimada inicialmente em 1,5 milhões de euros se fixou entretanto em 400 mil euros. Na semana passada, a Comissão da Saúde ouviu a deputada do PS Sónia Fertuzinhos, que fez o historial do processo. Hoje, vai deliberar. Rui Cunha, deputado do PS e presidente da Comissão, disse ontem ao DN que "na semana passada os partidos deram a entender estar de acordo com o estudo". Sónia Fertuzinhos disse que "a luta pela despenalização do aborto não encerra tudo o que é necessário fazer", justificando o sim do Parlamento à abertura de um concurso para se avançar com a pesquisa sobre a realidade do aborto em Portugal. Ana Manso, deputada do PSD, considerou que "independentemente de vir ou não a haver referendo, é saudável e importante saber a dimensão do problema em Portugal".

in http://dn.sapo.pt de 10.05.2005

segunda-feira, maio 09, 2005

António Costa também admite lei do aborto sem referendo

António Costa, o número dois do Governo, é mais uma voz socialista a admitir que a despenalização do aborto pode ser aprovada no Parlamento, sem referendo. Em entrevista ao programa "Diga Lá Excelência", da Rádio Renascença, RTP e Público, Costa assume que "era bom que a questão se resolvesse por referendo, mas é evidente que nada pode ficar bloqueado, nem é legítimo que se bloqueie a possibilidade da convocação do referendo ad eternum." Para o ministro de Estado e da Administração Interna, "tem de haver alteração da lei, e por via do referendo, tão depressa quanto possível"; caso contrário, o PS "não vai deixar-se bloquear nessa questão". Na semana passada, Jorge Coelho, numa posição concertada com José Sócrates, já tinha defendido a hipótese do PS abdicar do referendo e mudar a lei no Parlamento.
in http://dn.sapo.pt de 09.06.05

sexta-feira, maio 06, 2005

ABORTIVO

Apesar do eventual mau gosto da metáfora, é inevitável constatar que a forma como o Partido Socialista conduziu o processo do referendo sobre o aborto foi claramente...abortiva. Não cometerei a injustiça de dizer que o foi deliberadamente, apenas por mesquinhos cálculos de táctica política, embora estes tenham acabado por prevalecer sobre as convicções e a vontade de solucionar um problema que se arrasta penosamente, desde há longo tempo, na sociedade portuguesa. Em todo o caso, a inépcia demonstrada pelo Governo e pelo grupo parlamentar do PS na condução do processo só podia ter levado ao impasse a que se chegou. O PS tinha a obrigação de prevenir as dificuldades técnicas e políticas que se colocavam ao timing desejado para o referendo, quer do ponto de vista do calendário e das nor- mas constitucionais existentes, quer no que se refere às posições do Presidente da República ou do maior partido da oposição, o PSD. Mas o PS não o fez. Fez mais - e pior. Introduziu uma confusão suplementar com a referência às dezasseis semanas não previstas na pergunta do referendo sobre o aborto. Voltou atrás, mas demasiado tarde. Foi assim que o PSD e Sampaio puderam lavar as mãos da incomodidade, remetendo o momento de superá-la para as calendas gregas. E é por isso que, como pretende Jorge Coelho, resta agora ao PS submeter-se aos desígnios iniciais do PCP e do Bloco, abdicando do referendo e fazendo aprovar uma nova lei despenalizadora no Parlamento.
O PS insiste em apresentar um novo projecto de referendo em Setembro, sujeitando-se a uma polémica bizantina e caricata sobre o tempo de duração das sessões legislativas. Mas quando se chega a este ponto, em que a árvore do formalismo especioso das controvérsias constitucionais oculta a floresta das questões políticas e sociais (como é o caso do aborto), só podemos chegar mesmo a outras soluções abortivas.

Vicente Jorge Silva - www.dn.pt de 06.05.05

Coelho é um brincalhão

Jorge Coelho é um brincalhão. Porque só mesmo o seu apuradíssimo sentido de humor o terá levado a levantar a hipótese de o PS avançar com uma nova lei para o aborto dispensando a realização de um referendo. É verdade que na sua intervenção na Quadratura do Círculo, onde expôs esta ideia peregrina, ele colocou muitos "ses" a tal hipótese. Só "se houver bloqueamentos"; só se se verificar que "não é possível realizar" o referendo; só depois "de se tentar tudo". Aliás, Jorge Coelho até disse que estava a falar a título pessoal, e não em nome do PS. Infelizmente, não me recordo da última vez em que as opiniões pessoais de Jorge Coelho não coincidiram com as do PS.Por isso, com "ses" ou sem "ses", em nome "pessoal" ou em nome do partido, a ideia de resolver a liberalização do aborto entre as quatro paredes do Parlamento fica a badalar no ar, como uma ameaça - evidentemente, é essa a jogada política do bem-humorado Coelho. É a sua forma sibilina de pressionar o PSD a avançar para a revisão constitucional e de empurrar Jorge Sampaio para uma resolução do caso antes de apagar a luz de Belém. É pura malandragem política. O que se aceita em quase todos os assuntos, mas não quando está em causa algo tão dramático como o aborto, que envolve os valores fundamentais a vida e a liberdade dos indivíduos.A partir do momento em que o referendo de 1998, embora não vinculativo, decidiu a vitória do "não", avançar agora com uma lei liberalizadora que ignorasse quem votou há sete anos seria um golpe inadmissível na democracia portuguesa, uma jogada palaciana digna da mais saloia extrema-esquerda. Ontem, em declarações ao DN, Francisco Louçã afirmava "não se adia uma lei justa". O profeta Louçã tem todo o direito às suas convicções. Mas eu dispenso bem a imposição dos seus conceitos de "justiça". É lamentável ver o PS - perdão, Jorge Coelho - partilhar estas tristes teses.
João Miguel Tavares - in Jornal www.dn.pt de 06.05.05

terça-feira, abril 05, 2005

Editorial do Jornal Expresso do dia 1 de Abril de 2005

«Para nós, é necessário que haja uma linha clara, nítida, que separe a vida da morte.»
A TERRÍVEL batalha jurídica que se desenrolou nos Estados Unidos, com os tribunais a legislarem sobre o corte ou não corte do fio que ligava uma mulher à vida, e a luta que decorre em Portugal a propósito da marcação da data do referendo do aborto, trouxeram de novo à actualidade o debate sobre a vida humana.
A questão coloca-se de forma muito simples: uns defendem que não é legítimo intervir sobre a vida de um ser humano, desde o momento da concepção até ao momento da morte, outros consideram que essa intervenção é legítima.
Os primeiros condenam, por exemplo, o aborto e a eutanásia.
Os segundos aceitam-nos.
O EXPRESSO, não sendo um jornal confessional, como é sabido, tem-se mantido intransigentemente contrário à manipulação da vida.
Para nós, é necessário que haja uma linha clara, nítida, que separe a vida da morte - e que na transposição dessa linha não exista intervenção de ninguém.
Ora os que defendem a eutanásia e o aborto estão a admitir que a linha que protege a vida não é nítida, que o início da vida e o momento da morte são discutíveis, que um ser com menos de 12 semanas não pode ser considerado um ser humano e que um homem ainda vivo pode já «merecer» estar morto - sendo admissível, por isso, o golpe de misericórdia.
ESTA aceitação da ideia de que à volta da vida não deve haver uma linha inviolável mas uma nebulosa, e que são legítimas as intervenções nessa zona no sentido de interromper a vida ou apressar a morte, é um passo terrivelmente perigoso.
Porque, além da eutanásia e do aborto, abre o campo a outras enormidades como a pena de morte.
Ou a pensamentos ainda mais tenebrosos como este: se uma pessoa deixou de trabalhar e de ser produtiva, se se tornou um estorvo para os seus familiares, porquê mantê-la viva?
Se a eutanásia é permitida, por que não alargar esse conceito aos velhos que só representam encargos para a sociedade e um peso insuportável para os parentes?
ACEITAR a manipulação da vida é um risco tremendo.
Aqueles que, por razões ideológicas ou porque consideram que isso é «moderno», defendem «causas» como a eutanásia e o aborto, deveriam pensar um pouco mais a fundo até onde isso nos poderá levar.

Não poderia concordar mais com este pequeno, grande texto. Para onde é que nós caminhamos sociedade?

Enfim, coisas da vida ... "não tenhais medo, abri as portas a Cristo" (JPII)




Não tenhais medo, abri as portas a Cristo !

terça-feira, março 29, 2005

quarta-feira, março 23, 2005

Amanhã, poderá ser tarde demais

Recebi este excelente email e trasncrevo-o para aqui, leiam, muito interessante.

"Olá, Já vai para 15 anos que estou aqui na Volvo, uma empresa sueca.Trabalhar com eles é uma convivência, no mínimo, interessante. Aqui,qualquer projecto demora 2 anos a concretizar-se, mesmo que a idéia sejabrilhante e simples. É regra.Então, nos processos globais, nós (portugueses, brasileiros, americanos,australianos, asiáticos, etc) ficamos aflitos para obter resultadosimediatos, numa ansiedade generalizada. Porém, o nosso sentido de urgêncianão surte qualquer efeito neste país. Os suecos discutem, discutem, fazem"n" reuniões e ponderações. E trabalham num esquema bem mais "slow down".O pior é constatar que, no fim, acaba por dar tudo certo no tempo deles,coma maturidade da tecnologia e da necessidade; aqui, muito pouco se perde.
É assim:1. O país é cerca de 3 vezes maior que Portugal;2. O país tem 2 milhões de habitantes;3. A sua maior cidade, Estocolmo, tem 500.000 habitantes (Lisboa,que tem 1 milhão);4. Empresas de capital sueco: Volvo, Scania, Ericsson, Electrolux,ABB, Nokia,...5. Para ter uma idéia, a Volvo fabrica os motores propulsores paraos foguetes da NASA.
Digo a todos estes nossos grupos globais de trabalhadores: os suecospodem estar errados, mas são eles que pagam nossos salários. Entretanto,vale salientar que não conheço um povo, como povo mesmo, que tenha maiscultura coletiva do que eles. Vou contar-vos uma breve história, só paravos dar uma noção...
A primeira vez que fui para lá, em 1990, um dos colegas suecosapanhava-me no hotel todas as manhãs. Era Setembro, frio, e a neve estavapresente. Chegávamos bem cedo à Volvo e ele estacionava o carro longe daporta de entrada (são 2.000 funcionários de carro). No primeiro dia nãodisse nada, no segundo, no terceiro... Depois, com um pouco mais deintimidade, uma manhã perguntei-lhe:
- Você tem lugar marcado para estacionar aqui? Chegamos sempre cedo,o estacionamento está vazio e você deixa o carro à ponta do parque.
Ele respondeu-me, simples, assim:
- É que, como chegamos cedo, temos tempo de andar. Quem chegar maistarde já vem atrasado, precisa mais de ficar perto da porta. Você nãoacha?
Nesse dia, percebi a filosofia sueca de cidadania! Serviu também pararever os meus conceitos. SLOW vs FAST.Há um grande movimento na Europa hoje, chamado SLOW FOOD. A Slow FoodInternational Association - cujo símbolo é um caracol, tem a sua sede emItália (o site, é muito interessante. Veja-o). O que o movimento SLOW FOODprega, é que as pessoas devem comer e beber devagar, saboreando osalimentos, "curtindo" a sua confecção, no convívio com a família, com osamigos, sem pressas e com qualidade. A idéia é a de se contrapor aoespírito do FAST FOOD e tudo o que ele representa como estilo de vida, emque o americano "endeusificou".A surpresa, porém, é que esse movimento SLOW FOOD serve de base a ummovimento mais amplo chamado SLOW EUROPE, como salientou a revistaBusiness Week na sua última edição europeia. A base de tudo, está noquestionar da"pressa" e da "loucura" gerada pela globalização, pelo apelo à "quantidadedo ter" em contraponto à qualidade de vida ou à "qualidade do ser".
Segundo a Business Week, os trabalhadores franceses, embora trabalhemmenos horas, (35 h / semana) são mais produtivos que os seus colegasamericanos ou ingleses. E os alemães, que em muitas empresas instituíram asemana de 28,8 horas de trabalho, viram a sua produtividade crescer nadamenos que 20%.
Esta chamada "slow atitude" está a chamar a atenção, até dos americanos,apologistas do "Fast" (rápido) e do "Do it now" (faça já).Portanto, esta "atitude sem-pressa" não significa, nem fazer menos, nemmenor produtividade. Significa, sim, fazer as coisas e trabalhar com mais"qualidade" e "produtividade" com maior perfeição, atenção aos pormenorese com menos "stress". Significa retomar os valores da família, dos amigos,do tempo livre, do lazer, das pequenas comunidades, do "local", presente ereal, em contraste com o "global" - indefinido e anónimo.Significa a retoma dos valores essenciais do ser humano, dos pequenosprazeres do quotidiano, da simplicidade de viver e conviver e até dareligião e da fé. Significa um ambiente de trabalho menos coercivo, maisalegre, mais "leve" e, portanto, mais produtivo onde os seres humanos,felizes, fazem com prazer, o que sabem fazer de melhor.
Gostaria de que vocês pensassem um pouco sobre isto. Será que os velhosditados "Devagar se vai ao longe" ou "A pressa é inimiga da perfeição" jánão merecem a nossa atenção, nestes tempos de loucura desenfreada?Será que as nossas empresas não deveriam também pensar em programassérios de "qualidade sem-pressa", até para aumentar a produtividade equalidade dos nossos produtos e serviços, sem a necessária perda da"qualidade doser"?No filme "Perfume de Mulher", há uma cena inesquecível. Um personagemcego, interpretado por Al Pacino, convida uma moça para dançar e elaresponde-lhe:- Não posso, porque o meu noivo deve chegar dentro de poucosminutos.- Mas, num momento, se vive uma vida. (responde ele, conduzindo-anum passo de tango). E esta pequena cena é, para mim, o momento maismarcante do filme.
Algumas pessoas correm atrás do tempo, mas parece que só o alcançamquando morrem enfartados, ou algo assim.Para outros, o tempo demora a passar; ficam ansiosos com o futuro eesquecem-se de viver o presente, que é o único tempo que existe.
TEMPO, toda a gente tem, por igual.Ninguém tem mais, nem menos, que 24 horas por dia.A diferença é O que cada um faz do seu tempo.Precisamos de saber aproveitar cada momento, porque, como disse JohnLennon,"A vida, é aquilo que acontece enquanto fazemos planos para o futuro".
Parabéns por ter lido até o fim. Muitos não leram esta mensagem até aofim, porque não podem "perder" o seu tempo neste mundo globalizado.
Pense, e reflita até que ponto vale a pena deixar de "curtir" a suafamília, ou os seus amigos. Deixar de estar com a pessoa amada, ou passearna praia no fim de semana.
Amanhã, poderá ser tarde demais.


E assim vai a vida ...

quinta-feira, março 17, 2005

Uma questão de fé

"Não preciso de qualquer outra fé,
além da fé nos seres humanos." - Pearl S. Buck

Encerrou recentemente o Congresso Portugal 2005: Que Crianças? Que Famílias, que ao longo de três dias reuniu no Centro Cultural de Belém, em Lisboa, dezenas de especialistas nacionais e estrangeiros de diversas áreas da infância e adolescência. Desde já ficam de parabéns todos os promotores do evento, sendo impossível não destacar o papel do prof. dr. Mário Cordeiro, pediatra, professor universitário, que tanto tem dado a Portugal e às suas crianças. Mas, quando pensamos no Portugal de 2005, só resta perguntar: que mais necessitam as nossas crianças, adolescentes e suas famílias? Muitas respostas foram ouvidas ao longo deste congresso, mas, entre outras coisas, talvez disto:- melhor planeamento familiar, para evitar, entre outras coisas, a enorme taxa de gravidez adolescente e o uso do aborto e da pílula do dia seguinte como forma de contracepção. Ter a ideia de que não é possível pensar a sexualidade sem a respectiva integração emocional (a maior condicionante de todos os comportamentos).- mais suporte às grávidas de risco, sobretudo às mais jovens e de mais frágil condição social e familiar (as que estão sozinhas ou sem estrutura familiar de apoio) e as em situação de desestruturação psíquica.- um período de licença de parto mais alargado, como em muitos outros países mais evoluídos, quer para as mães, quer para os pais (porque são estes tão esquecidos?), e a possibilidade de usufruir de tempos parciais de trabalho por opção, durante determinado período de tempo.- maior apoio aos pais, em centros de saúde e escolas (por exemplo), porque educar não é tarefa fácil e ninguém nasce ensinado, e porque, mais do que serem recriminados, há muitos que necessitam é de ser ajudados.- cidades, bairros e habitações de escala mais humanas, em que a relação com a natureza seja uma constante e não uma raridade ou uma mera questão de luxo. A actual (des)organização ambiental constitui um sério ataque à saúde mental das populações e tem tudo a favor para produzir um impacto grave no bem-estar dos mais novos e suas famílias.- mais tempo de relação entre todos, porque não é possível haver tempo de qualidade sem que exista quantidade, isto é, interagir, amar, conhecer o outro não é coisa que se construa à custa de um espaço reduzido de minutos ao final de um dia, quando todos estão demasiado cansados para se sentirem com ânimo e alegria para dar e receber. - locais mais seguros e de melhor qualidade para deixar os filhos, com alargamento das redes de creches e de jardins de infância, e que estas existam em espaços condignos com pessoal minimamente habilitado para o fazer e sem que se excedam os limites toleráveis para um número de crianças face ao de adultos.- amor incondicional dos seus pais ou dos adultos que delas cuidem e, em caso de impossibilidade manifesta de capacidade dos mesmos, delimitação rápida de um projecto de vida alternativo, coerente, e sem estar sujeito a repetidas inconstâncias. - presença de ambos os pais, se possível de forma constante e regular e, quando tal não for possível por separação ou divórcio, que seja mantida a possibilidade de a criança ou adolescente ter livre acesso a ambos, sem que se vejam directamente envolvidos em conflitos que não são os seus.- boa delimitação de regras e de limites, de forma a que a criança e o adolescente possam integrar as diferenças de gerações e de papéis e lidar com situações eventualmente de frustração, não correndo assim o risco de se organizarem numa estrutura omnipotente, que nos dias de hoje se pode já considerar um problema sério de saúde pública.- em situações graves de negligência, abuso ou maus tratos, intervenção atempada dos tribunais, com recurso a pareceres de especialistas da área, para que a justiça não seja algo sistematicamente adiado ou sem conexão com as verdadeiras necessidades emocionais das crianças.- utilização de estruturas de apoio residencial e ou educativo apenas em casos extremos e durante o menor tempo possível; contudo, partindo do princípio que algumas instituições deste género serão sempre possíveis, que estas se organizem num modelo compreensivo/reparador e não comportamental/punitivo (a maioria das que actualmente existem deviam, simplesmente, fechar).- escolas que saibam integrar e desenvolver as plenas capacidades dos seus alunos e que estejam suficientemente atentas aos que aí apresentam dificuldades de aprendizagem e de comportamento, pois actualmente não existem recursos eficazes para lidar com todos aqueles que têm problemas na área emocional (e já são muitos).- uma cultura de não violência, que as deixe protegidas da exposição maciça a imagens de uma agressividade e de uma sexualidade (perversas); esta última deveria ser integrada na vivência dos afectos, isto é, na sua plena representação emocional, e não apenas agida num plano comportamental. - um pacto televisivo que exclua o telelixo de horários de maior vulnerabilidade para as crianças e para os adolescentes, uma vez que a influência cultural da televisão é, nos dias de hoje, uma das maiores na construção da personalidade dos mais novos.- um controlo da venda de tabaco e de bebidas alcoólicas aos mais novos, para que começar não seja fácil e, sobretudo, não seja oferecido sem nenhuma defesa existente.- a possibilidade da prática de um desporto, pelo menos enquanto durar a escolaridade obrigatória, ou seja, entre os 6 e os 16 ou 18 anos de idade, uma vez que o desenvolvimento e a integração psicomotora são fundamentais para o bem-estar individual e social.- incremento do ensino das artes, nas suas vertentes plástica, dramática e, mais que tudo, musical, isoladamente ou num conjunto de educação para a estética.- desenvolvimento de um maior conhecimento das verdadeiras necessidades psíquicas das crianças e dos adolescentes por todos aqueles que com eles trabalham ou convivem e que assim avaliam o seu bem-estar e de suas famílias, incluindo médicos, assistentes sociais, educadores, professores, juízes, entre muitos e muitos outros.- possibilidade de atendimento em saúde mental (crianças, adolescentes e famílias), se necessário.- que os temas da infância e da adolescência entrassem para a agenda política já e agora neste Portugal 2005, porque o que há para fazer é muito, e qualquer resultado que se deseje demorará três gerações a consolidar.Para que (e citando o juiz-conselheiro Armando Leandro, que realizou a conferência de abertura deste encontro) nascer hoje em Portugal não seja uma mera fatalidade, mas sim um enorme privilégio. Oxalá que sim, porque, por enquanto, nada passa de uma questão de fé.

Pedro Strecht - Pedopsiquiatra
in Jornal Publico de 17.03.2005

terça-feira, março 15, 2005

Lilypie First Birthday tickers Lilypie