As bases do que conta
1. Se a meta final de tudo é uma edificação humana (pessoal e social) gratificante, então a chave de leitura do que conta terá de corresponder a esse mesmo ideal a construir. Há realidades que valem mesmo a pena apostar, outras nem tanto. É certo que muitas vezes a história se constrói à revelia e que é preciso errar primeiro para acertar depois. Mas, aos tempos que vivemos não bastam as boas intenções, e mesmo, talvez, a forma mais justa de avaliar e considerar uma determinada aposta deva ser sempre a resposta à pergunta fundamental: isto ou aquilo, “em que servirá a comunidade?” Não havendo tempo e lugar para esta questão, perder-se-á o horizonte das finalidades últimas.
2. É premente a necessidade de construir a partir das bases. Do que realmente se procura realizar ao serviço das pessoas concretas. As linhas sociais e políticas não podem desgarrar os princípios da sua aplicação humana e dignificante. Tantas vezes, dramaticamente, parece que as pessoas contam pouco para os sistemas que vivem das médias e números. Sem dúvida, todos os passos do rigor, qualidade, exigência, avaliação, visão programática são fundamentais a uma sociedade que procure aperfeiçoar-se com justiça. Mas quando esta procura não dá lugar à visão de conjunto e à participação abrangente em ordem ao consenso máximo possível, verificar-se-á, no momento seguinte, uma desidentificação que acaba por comprometer quase tudo…
3. Entre o que conta nos mega critérios das super-estruturas e o que deve contar efectivamente como essencial proximidade de relação, talvez possamos olhar para uma “freguesia média” de Portugal e a partir dela estabelecer o possível paralelismo para com a complexa gestão governativa nacional. Talvez as freguesias portuguesas, no esforço de proximidade serviçal para com as populações e nos múltiplos relacionamentos abertos e cooperantes tanto nas situações difíceis como nas festivas, tenham muito a dizer aos poderes centrais que, muitas vezes, preferem o sítio do gabinete informático que distancia as ideias da sociedade diária concreta das pessoas.
4. Se o que tem de contar tem de ser a “bitola” das comunidades concretas, então terão de ser mesmo valorizados e reconhecidos os esforços (como serviços às populações) que procuram recriar esta vivência diária de um povo que traz consigo a “alma” das gentes e terras seculares. Às vezes há tanta distância dos poderes às bases, desconhecimento este que se detecta cabalmente quando determinadas “ordens” teóricas deitam por terra o “resto” de pertenças que existem. A única via é mesmo o envolvimento naquilo que a todos pertence, e, acima de todos os ventos, modas e marés, sentir-se que “servir” é mesmo o que conta.
Alexandre Cruz [18.02.08]
[imagem freguesia de Faia - Sernancelhe] fonte: http://sernancelhe.planetaclix.pt
Sem comentários:
Enviar um comentário