Sabemos que o número de casamentos na igreja diminui em todo o país e o mesmo foi acontecendo em relação aos casamentos civis. Aumentaram, sim, as uniões de facto, protegidas por politicas sociais, ideologias recentes e ambiente sem nervura, por vezes em detrimento das famílias que se formam segundo a Constituição Portuguesa e que são ainda a grande maioria das famílias portuguesas.
Porém, não é de estranhar que, aqui ou ali, se dê agora um novo surto de casamentos civis, dada a reacção pessoal a todas as formas de compromissos permanentes, às leis vigentes sobre o divórcio, ao enfraquecimento da censura social de outros tempos.
Casar e descasar passou a ser coisa fácil e rápida quando no horizonte de um casamento está mais presente a possibilidade de um divórcio que de um casamento estável. Casar neste contexto e apesar de tudo com alguma pompa, mesmo que seja só civil, até se torna aliciante.
Diz-se, com frequência que ainda persiste, que os noivos vão à igreja, não por motivos de fé, o que muitas vezes acontece, mas porque é mais bonito e as famílias e o ambiente social assim o exigem Agora vão mais ao registo civil, porque o rito já tem alguma solenidade, muitos conservadores se vêem obrigados a ceder, com desgosto, aos mais diversos gostos, o descasar se tornou muito fácil, as famílias deixaram de ter qualquer influência nas opções dos filhos e o ambiente sopra a favor. Assim se opta com a antecipada garantia de uma porta sempre aberta para poder passar a outra se se quiser e quando se quiser. Ser casado não obriga mais a grandes esforços. Acaba-se e pronto.
Onde está a solidez da vida em sociedade, da qual a família será sempre célula viva ou morta, o valor dos compromissos pessoais e dos compromissos assumidos de modo público, a dimensão moral dos valores da vida e das pessoas, a garantia, não apenas legal, que também esta é pouca, dos direitos fundamentais dos filhos, onde a seriedade de quem deve ter princípios a reger a vida, se quer que a esta se chame vida?
Será que o livro aberto das muitas misérias humanas e familiares, cada vez mais graves e elucidativas, não é lido por ninguém com responsabilidades no Estado, na Igreja, na comunicação social, no mundo dos tempos livres, nas legisladores que mais olham para si, dos que fazem de muitas crianças, filhas de pais desavindos, bolas de pingue-pongue, jogadas na mesa da irresponsabilidade paternal e social? Será que na procura da realização meramente pessoal já se dispensam regras que geram compromissos, laços morais que traduzem dignidade, vinculação concreta à sociedade, da qual parece que apenas se querem os favores?
Será que andam cegos os jovens ao pensarem em casar só vêem as mais legitimas condições materiais e não pensam que casar é um passo sério e cheio de consequências irreversíveis nas suas vidas e nas vidas de outros que deles passam a depender?Respeitar as opções pessoais de casar na igreja, no civil ou em parte nenhuma, não impede que se diga que se trata de um acto público fundamental que nos afecta a todos. A sociedade destrói-se não apenas pelas agressões ao ambiente, mas também pela destruição dos laços e dos vínculos que a tecem e lhe dão solidez.
António Marcelino, Bispo emérito de Aveiro
[imagem alianças de casamento] fonte: http://arrastao.weblog.com.pt
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